É com grande honra que partilho a notícia de que a minha pintura "Vestígio e Simulacro de Mim" recebeu um prémio histórico, dado apenas duas vezes num século (1925 e 1971). Esta tela foi escolhida para integrar a coleção permanente do café A Brasileira, em Lisboa (Chiado). Este é um espaço icónico, carregado de história, onde nomes ilustres como Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Eduardo Viana, Eduardo Nery e João Vieira deixaram a sua marca, contribuindo para a rica tapeçaria artística deste lugar.
A minha obra, inspirada por Fernando Pessoa, é uma tentativa de capturar a essência multifacetada deste poeta que tanto nos fascina e desafia. Pessoa, frequentemente descrito como um oceano de pensamentos e emoções, aparece aqui retratado numa paisagem surreal que é, ao mesmo tempo, ele próprio e também a vastidão que simboliza.
Veja o vídeo:
A PAISAGEM SURREAL: PESSOA NO OCEANO DA INTERIORIDADE
Na composição, Fernando Pessoa é tanto figura quanto água. A superfície de um lago, que se ergue verticalmente, reflete e fragmenta a sua imagem de forma infinita. É um reflexo do reflexo – um eco visual que dialoga com a fragmentação psicológica e identitária tão presente na obra do autor.
No ar em volta da sua silhueta, flutua uma citação emblemática de O Livro do Desassossego:
"Nunca fui senão um vestígio e um simulacro de mim.
O meu passado é tudo quanto não consegui ser."
Este fragmento não é apenas um elemento literário; ele impregna a atmosfera da pintura como se as palavras tivessem corpo.
MULTIPLICIDADE LINGUÍSTICA: UMA PONTE COM O MUNDO
Para enriquecer ainda mais a experiência de quem contempla a obra, decidi traduzir esta citação para várias línguas. A Brasileira, sendo um local frequentado por visitantes de todo o mundo, pareceu-me o palco ideal para celebrar esta pluralidade. Cada tradução é uma nova camada de fragmentação, um convite a que o público, independentemente da sua língua, mergulhe no universo de Pessoa e reflita sobre a sua própria condição.
O SIGNIFICADO DE PERTENCER A ESTE ESPAÇO
A Brasileira é muito mais do que um café; é um símbolo da cultura lisboeta, um espaço onde artistas, poetas e pensadores de várias gerações encontraram inspiração. A Brasileira é o café mais famoso de Portugal, um dos três cafés mais antigos de Lisboa, e conhecida por popularizar o consumo de café no país, especialmente a "bica".
Ver a minha pintura neste contexto, ao lado de obras de artistas que tanto admiro, é um marco na minha jornada enquanto pintor. Espero que esta obra possa dialogar com o espírito do espaço e com aqueles que por lá passam, como uma pequena contribuição para a celebração do génio de Pessoa e do poder transformador da arte.
Artistas premiados: António Faria Costa, Catarina Mendes, Catarina Oliveira, Filipe Amaral, Isabella Fernandes, Margarida Costa, Martim Vilhena, Nelson Ferreira, Rui Braz e Sara Conde. Os meus parabéns a todos!
As obras estarão expostas no café A Brasileira de 15 de janeiro a setembro de 2025.
Mais detalhes em: https://amensagem.pt/2024/11/19/brasileira-novos-quadros-concurso-chiado-cafe/
E estão aqui algumas fotos da cerimónia, cortesia de A Brasileira do Chiado e do Grupo O Valor do Tempo. Podem ver o momento em que a pintura chega ainda tapada, e depois revelada perante um auditório cheio.